segunda-feira, 21 de março de 2011

Bullying

O termo ficou famoso há pouco tempo. Lembro-me que no meu período escolar, tais atos eram conhecidos como “aloprar”, “zuar”, alguém. Nunca havia ouvido falar em “bullying”. Trata-se de agressões físicas e/ou psicológicas que acometem um ser, repetidas vezes. Para minha sorte, eu não tive problemas em sofrer “bullying”. Ao menos, não me recordo. Como são agressões marcantes, principalmente por fatores psicológicos, se eu tivesse sofrido isto, com certeza... lembraria. Em algum momento da minha vida, passei a ter um apelido. Hoje, com quase 31 anos completos, alguns amigos ainda me chamam de Pulga. Nunca fui contra tal apelido. Falar de Juli, seria algo amplo, existem muitas Julis por aí. Mas...falar da Pulga, era como que uma exclusividade. Quem foi? A Ju. É amplo, ainda caberia uma explicação sobre qual Ju seria a pessoa em questão. Quem foi? A Pulga. A imagem da menina magrelinha e que jogava um belo futebol com sua canhotinha, já tomava conta dos cérebros envolvidos no diálogo. Era uma exclusividade. Sempre gostei. Meu namoradinho Octavio ligava em casa, e meu pai atendia:
- A Pulga está?
- Sim, quem quer falar? – Meu pai respondia na maior naturalidade.
- O namorado dela.
Nesse momento, meu pai fervia.
Para meu aprendizado, eu fui autora de “bullying”. Ainda criança, não era uma pré-adolescente. Não sabia exatamente o que eu estava causando na outra criança. Meus pais nunca foram chamados pela escola, provavelmente porque a menina que sofria as agressões, nunca reclamara.  Infelizmente, não me recordo de seu sobrenome e por isso, não pude encontrá-la nas redes de relacionamento. Queria pedir perdão. Talvez tudo fosse diferente se meus pais tivessem sido chamados. Eu teria maior consciência do mal que estava fazendo. A menina chamava-se Camila. Na verdade, era um amor de menina. Tinha um tom de pele, bem claro. Era muito, muito, muito branquinha. Talvez, essa diferença que tenha despertado em mim, qualquer preconceito (inconsciente) e achado que ela merecia tal agressão. Para falar a verdade, eu enchia muito a paciência daquela menininha. Sem motivos. Por favor, não se esqueçam de que eu era uma criança, e realmente não sabia o que estava fazendo. Se eu fosse pré-adolescente, a história teria outro sentido. Eu cometia sem sombra de dúvidas, o famoso “bullying”, eu literalmente aloprava a Camila. Ela nunca me fez absolutamente mal nenhum. As minhas agressões cessaram quando Camila tomou coragem e me fez as pernas ficarem bambas. Meu coração doeu. Meu sangue ficou mais quente. Senti um calafrio na cabeça. Nunca mais eu cometi nenhum tipo de agressão do tipo. Ela me ensinou o que é respeitar a todos, independente de classe social, cor, credo, idade e etc.
- Macaca! – era como eu a chamava diariamente.
- Pára Pulga!
- Sua macacaaaaaaa! – eu gritava.
A menina se colocava a chorar. Eu, sentia um ar superior e a deixava para trás. Até o dia em que Camila, foi muito mais superior do que qualquer criança.
- Macaca! – eu novamente.
Camila chegou perto de mim e aos meus ouvidos sussurrou:
- Me faz um favor, Pulga? – disse-me baixinho.
Parei por segundos, percebendo que algo estava errado. Ela nunca me pedira nada. Balancei com a cabeça dizendo que poderia fazer um favor a ela.
- Não me chama mais de macaca, porque isso me magoa. – sussurrou mais uma vez.
Naquele momento, eu concordei. Senti-me muito mal. Sofri os sintomas físicos citados acima, e uma dor psicológica muito grande. Nunca havia passado na minha cabeça que eu a estaria magoando. Eu não pude observar isso naquela menininha branquinha. O episódio fora tão marcante em minha vida, que até hoje se tornara algo inesquecível. Que isso sirva de lição, para eu poder ensinar a minha filha, que não devemos em hipótese alguma, machucar outra pessoa. Que devemos prestar atenção, pois mesmo sem perceber, podemos ainda assim, estar magoando alguém. Alguém que nos quer bem. Eu peço perdão à Camila. Peço desculpas pelas lágrimas que em seu rosto eu fiz correr. Nunca mais eu agredi a menina. Ao contrário, sempre a chamava para brincar. Queria estar ao lado daquela menina, que um dia eu magoei.
Juli.

2 comentários:

roseli disse...

eu não lembro disso....lembro da crismeire, essa sim!rsrsrs
na minha 6ª série,minha mãe comprou para mim uma bolsa escolar(naquele tempo não se falava mochila) com o logo do colégio..era minha paixão! havia um garoto,o celso q gostava de fazer da minha bolsa uma bola de futebol,chutava, ria, me infernizava..um dia,estourei! dei o maior tapa na cara do rapazinho.veio a freira e eu pensei:hi, esquentou!pensei q ia ganhar umas férias compulsórias em casa, mas para minha surpresa, o garoto é q foi dispensado por 5 dias!!! e nunca mais se meteu comigo, aprendeu a me respeitar..e no final, não ficamos amigos, mas tampouco inimigos!aprendendo sempre.....

Anne disse...

Nossa Juli!
Não sei se a Camila é da minha época...a cho que não. Me lembro cada vez menos dessa fase, idade, só pode.
Mas com o advento das redes sociais a gente reencotra amigos das antigas. Eu vi vc e pensei imediatamente "A Pulga"!!!
Não sabia daí se vc se importava com isso ou não.
No meu caso, eu sempre estive no meio. Não aplicava e recebia muito pouco das "zueiras" dos elementos mais "fodões" da escola. Mas tb não me misturava muito. Não gostava de vê-los chateando os outros. Ficava comovida com os "nerds" que não eram deixados em paz....
Bem, acho que essa relação de provocações é parte da fase. Exsite uma linha, que é o limite entre o saudável e o perigoso.
Se não fosse você provocar a Camila talvez ela também não aprendesse a se defender.
O diferencial é a família, e aí sim!
Cabe à mãe, pai, vó, quem estiver de olho conhecre as relações da criança na escola. E medir onde é necessário interferir...
bjo bjo
obrigada por linkar!
:)